Embora não seja um manual de
ciência ou de política, a Bíblia é um livro que se mantém atualizado em todos
os contextos e em todos os tempos, podendo servir de inspiração no lidar com os
mais diversos problemas.
Como dizia o sábio do
Eclesiastes, "o que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se
tornará a fazer: de modo que nada há novo debaixo do sol", Ec. 1.9.
Portanto, vamos buscar nela inspiração no trato deste problema tão atual: a
mulher no contexto social.
Como sabemos, uma das
consequências da chamada Revolução Industrial do século 18, foi a substituição
dos produtos manufaturados pelos industrializados.
A ausência de leis que
regulassem as relações capital-trabalho, e a crescente oferta de mão de obra
barata, aviltaram os salários, daí advindo o êxodo do campo para a cidade, já
naquele século. Toda a família foi obrigada a lançar-se no mercado de trabalho.
O patriarca, um dos pilares da
civilização pré-industrial, já não seria mais o grande provedor. A mulher já
não seria responsável apenas pelo cuidado do lar e dos filhos. Daí surgiram
conflitos que desaguariam no feminismo e em outras disputas sociais do final do
século passado, e do início deste.
Que orientação nos dará a
Bíblia em face da nova situação?
I. A mulher no Antigo Testamento
O domínio masculino
(patriarcal) vigorara praticamente em todas as sociedades até então. Embora
existam notícias de sociedades matriarcais (onde o domínio era exercido pela
mulher) mesmo nestas, raríssimas por sinal, não existia a predominância da
mulher sobre o homem. Nelas sublimava-se a condição de mãe pelo papel que ela
desempenhava na formação das lideranças. A mãe era honrada porque era do seu
ventre que saíam os caçadores e guerreiros do clã.
A Bíblia,- especialmente o
Pentateuco, institucionalizou em Israel a sociedade patriarcal. Todavia,
atentando-se para detalhes significativos da lei mosaica, logo se perceberá que
o patriarcalismo hebreu reservava um papel sumamente importante à mulher, que
deveria exercer tarefas complementares às do homem, proporcionando equilíbrio
nas relações familiares. Al- i guns excessos cometidos por personagens bíblicos
podem transmitir a ideia de que o homem hebreu era senhor absoluto de sua
esposa, sem qualquer contrapartida.
Nada está mais longe da verdade, como; podemos verificar:
No princípio, concluída a obra
da Criação, "disse o Senhor Deus:
não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora...", Gn 2.18.
Ora, à djutora, ou ajudadora, não è o mesmo que serviçal, mas colaboradora.
Eva, na verdade, sintetizava o propósito inicial de Deus, esboçado em Génesis
1.27, quando mesmo antes de ser trazida à existência, já estava incluída no
projeto da Criação do homem: "E
criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os
criou".
Vemos, portanto, que o projeto
de Deus incluía essa ajudadora, tirada simbolicamente da costela, não do pé, da
cabeça ou de outro lugar que denotasse subserviência ou domínio.
Depois da queda foram estabelecidas por Deus algumas modificações,
que de nenhuma maneira significavam um rebaixamento da mulher do seu status
inicial.
Jamais encontraremos
Deus ratificando a ideia de que a mulher se
torne serviçal ou objeto do qual o homem lance mão segundo os seus caprichos.
Estas mudanças passam a ser bem estabelecidas na lei mosaica, onde um dos
mandamentos é precisamente o de honrar igualmente pai e mãe.
No tocante ao divórcio, em que
era sumamente desigual o tratamento dado à mulher, mais tarde Jesus
esclareceria a questão: "Moisés por causa da dureza dos vossos corações
vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim." Mt
19.8.
Um dos episódios mais significativos Testamento que comprova o reconhecimento dos direitos femininos é o
caso das filhas de Zelofeade: neste episódio, narrado no capítulo 27.1-8 do
livro de Números, as cinco irmãs, que não possuíam irmãos, dirigem-se a Moisés,
solicitando-lhe que seja revista a lei, no que dizia respeito à herança
feminina.
Moisés leva o caso à consideração
do Senhor, que não só determina a mudança da lei, como mais; tarde a
aperfeiçoa, no capítulo 36.6 do ; mesmo livro.
II. A mulher no Novo Testamento
No Novo Testamento o papel da
mulher é ainda mais aperfeiçoado. O cristianismo coloca a mulher no nível que
lhe é devido, mediante o seu emprego em todas as atividades da Igreja nascente.
A primeira pessoa convertida na
Europa foi Lídia, comerciante de Tiatira, como verificamos em Atos 16.14.
Não sabemos se era ou não
casada, mas a conversão dela proporcionou valioso apoio a Paulo em sua segunda
viagem missionária.
Se concordamos que a Epístola
aos Romanos contém o centro da teologia cristã, como ensinam os estudiosos,
poderemos dirimir nela algumas dúvidas que ainda hoje permeiam as igrejas
quanto ao serviço eclesiástico das mulheres. Das vinte e cinco pessoas citadas
nominalmente por Paulo no capítulo 16 como cooperadores, e às quais expressa
profunda gratidão, um terço são mulheres, começando com Febe, e terminando com
Olímpia.
Verificadas no contexto, todas
estas pessoas, homens ou mulheres, foram diretàmente envolvidas com o sucesso
do ministério de Paulo.
III. Nem machismo nem feminismo
Mesmo quando aparecem em situações
desfavoráveis, como a mulher de Ló, Jesabel, Raabe, Dalila, a pitonissa,
Safira, a samaritana e outras, as mulheres deixam um rastro de exemplos, a
serem seguidos, ou evitados. Nisto verificamos que a Bíblia trata igualmente
homens e mulheres, pois não se, omitem eventuais desvios de conduta de um lado
ou do outro. Elas ocupam posição de destaque na Sociedade, no Tabernáculo, no
Templo, ou na quietude dos lares, forjando o caráter de grandes homens de Deus.
Foi uma mulher, Bate-Seba, que salvou para Salomão o
trono de Davi, usurpado por Adonias; foi uma mulher, Ester, que salvou os
judeus da matança que lhes preparara Haman; foi uma mulher, a viúva de Sarepta,
que sustentou Elias quando fugia de Acabe; foi uma mulher, Maria, que ofereceu
o ventre para nele ser gerado^ Jesus, o nosso redentor.
Conclusão
A grande lição que aprendemos na
Bíblia é que a mulher nem é escrava nem concorrente do homem.
Suas atividades, no lar, na sociedade,
no trabalho, na Igreja, OU ONDE QUER QUE se encontre, são sempre
complementares.
Se a civilização contemporânea
bem compreender este papel, por certo estará caminhando ao encontro das bênçãos
de Deus, cujo propósito é promover a felicidade da família, célula mater da
sociedade.
Por: PR.
Paulo Ferreira
Fonte:
Jornal Mensageiro da Paz, março de 2006
Divulgação: Subsídios ebd